abril 12, 2004

Raízes

Quando a mensagem do Cristianismo saiu da Palestina para o Mundo, as suas implicações foram sendo questionadas por sábios de outras terras. A missão de evangelizar necessitava de um conjunto de conceitos mais elaborados, de uma Revelação melhor explicada. Era evidente que esta nova fé levantava uma série de questões metafísicas, éticas, cosmológicas que precisavam de resposta. Por sorte, quase tudo já tinha sido tratado pelas velhas escolas pagãs da ciência e filosofia que marcavam o conhecimento do Império Romano (para onde o Cristianismo se expandiu). Muitos dos novos convertidos, detentores de alguma educação, eram formados pelos quadros conceptuais dessas escolas, principalmente pelo Estoicismo (fundada por Zenão de Cítia no Século IV a.C.) que promovia uma doutrina moral onde se propunha suportar a dor e a infelicidade para atingir a felicidade através da razão e da fé nessa razão. A doutrina era baseada numa visão da Natureza como um todo imanente, onde as partes colaboravam num determinado sentido (eventualmente incognoscível). Os Estóicos teriam, assim, sido formados num contexto que lhes disponha favoravelmente a aceitar a Verdade Cristã. Foram convertidos e conversores:
  • O Evangelho de São João começa com "No início era o Logos" (que significa razão, palavra), desde há muito uma das palavras chaves do Estoicismo para explicar como a divindade iniciou a sua relação com o universo.

  • Outro conceito Estóico adoptado foi o "Espírito Santo". Este termo surgiu no desenvolvimento do conceito de "fogo criativo" de Zenão, denominado por um seu discípulo de pneuma ou espírito. Este espirito era uma emanência de Deus no universo, condensado em alma no ser humano.

  • Um outro contacto reside no conceito de Trindade: Pai, Logos e Espirito eram todos nomes estóicos para a unidade de Deus.

  • A progenidade de Deus em relação aos homens e a consequência de sermos todos irmãos, era igualmente uma noção estóica (referido por São Paulo nos Actos dos Apóstolos, 17:28).

  • Até alguns comportamentos dos seus seguidores são semelhantes: o ascetismo, o afastamento da sociedade para melhor meditar eram efectuados por professores estóicos que depois foram imitados pelos seus equivalentes cristãos. Herdaram-se termos: o que praticava auto-controlo era um "ascetic"; aquele que se afastava do mundo era um "monachi" sendo o local de retiro denominado "monasterium".
Como curiosidade final, os Estóicos chamavam por vezes ao Universo a Cidade de Deus. Foi este o título da magna obra de Santo Agostinho (Civitas Dei), um dos maiores teólogos da Igreja. (adaptado de um texto de Maxwell Staniforth)

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