abril 30, 2004

Aos Georges Bushes (IX)

A liberdade é muito pesada. Por isso se persiste na ignorância, na arrogância, na invenção de deus. Como se ensina a uma criança que há limites no possível, que não se pode ganhar sempre, a morte?

abril 28, 2004

De facto...

Ontem em conversa com jars, ele comentou sobre o programa SETI da NASA de busca de inteligência extraterrestre que, olhando para a nossa espécie, mais valia ter procurado estupidez extraterrestre que deve ser muito mais comum.

abril 27, 2004

Keep walking

 
Diz-se que a produtividade é a distância percorrida, não o número de passos dado. E a direcção do caminho? Não interessa?

abril 26, 2004

Aprender

Aprender da escola a ler, contar e pensar. Dito assim, parece fácil a tarefa de aluno e professor. Mas ler não é só ler. É escrever e criar nessas mesmas palavras, é interpretar os outros, procurar sentidos, resolver e desenhar ambiguidades. Mas contar não é só contar. É ver além dos números, descobrir padrões, abstrair o Mundo nas suas invariantes, ver o geral na floresta dos particulares. Mas pensar não é só pensar. É reconhecer o passado das ideias, os caminhos percorridos por magníficos fracassos, é aprender a argumentar e a admitir que se está errado, é beber da ética dos direitos e deveres para saciar a consciência. Dito assim, do fácil pouco sobra neste curto intervalo de escola e vida.

abril 22, 2004

Implicações

O mundo é demasiado complexo para ser inteiramente expresso em qualquer linguagem. Por isso as linguagens refugiam-se na ambiguidade. Daqui decorre que a expressão da Lei esteja sempre à distância do espirito da Lei. Deste intervalo vivem advogados e chico-espertos. E outros.

abril 21, 2004

"There is a crack in everything, that's how the light gets in"

É daquelas citações que perdemos o rasto quando a memória falha. Reencontrei-a na Praia. De Leonard Cohen.

abril 19, 2004

O Gosto Solitário do Orvalho

Quatro seitas
O mesmo sono
sob a lua cheia

Matsuo Banshô (1644-1694)

abril 16, 2004

Reflexos


Um dia noite, uma noite ainda de dia. A irrealidade da memória traduzida em imagem, reflexo de luz. Partes perdidas, outras talvez nessa estranha casa familiar do meu inconsciente. A mesma luz, a mesma cor ofusca os sentidos que me restam. Se os sonhos são reflexos de memória, eu acordado sou espelho de quê?

abril 15, 2004

Distância

O fascínio do inexplicável reside na distância a que se encontra. Qual o interesse da resposta pronta, vestida de atalho, que a religião oferece?

abril 14, 2004

Aos Georges Bushes (VIII)

"As diferenças?"
"O simples não é básico, o complexo não é complicado."
"O que faço das respostas básicas a perguntas complexas?"
"Desconfia."
"E respostas simples a perguntas complicadas?"
"Escuta."

abril 12, 2004

Raízes

Quando a mensagem do Cristianismo saiu da Palestina para o Mundo, as suas implicações foram sendo questionadas por sábios de outras terras. A missão de evangelizar necessitava de um conjunto de conceitos mais elaborados, de uma Revelação melhor explicada. Era evidente que esta nova fé levantava uma série de questões metafísicas, éticas, cosmológicas que precisavam de resposta. Por sorte, quase tudo já tinha sido tratado pelas velhas escolas pagãs da ciência e filosofia que marcavam o conhecimento do Império Romano (para onde o Cristianismo se expandiu). Muitos dos novos convertidos, detentores de alguma educação, eram formados pelos quadros conceptuais dessas escolas, principalmente pelo Estoicismo (fundada por Zenão de Cítia no Século IV a.C.) que promovia uma doutrina moral onde se propunha suportar a dor e a infelicidade para atingir a felicidade através da razão e da fé nessa razão. A doutrina era baseada numa visão da Natureza como um todo imanente, onde as partes colaboravam num determinado sentido (eventualmente incognoscível). Os Estóicos teriam, assim, sido formados num contexto que lhes disponha favoravelmente a aceitar a Verdade Cristã. Foram convertidos e conversores:
  • O Evangelho de São João começa com "No início era o Logos" (que significa razão, palavra), desde há muito uma das palavras chaves do Estoicismo para explicar como a divindade iniciou a sua relação com o universo.

  • Outro conceito Estóico adoptado foi o "Espírito Santo". Este termo surgiu no desenvolvimento do conceito de "fogo criativo" de Zenão, denominado por um seu discípulo de pneuma ou espírito. Este espirito era uma emanência de Deus no universo, condensado em alma no ser humano.

  • Um outro contacto reside no conceito de Trindade: Pai, Logos e Espirito eram todos nomes estóicos para a unidade de Deus.

  • A progenidade de Deus em relação aos homens e a consequência de sermos todos irmãos, era igualmente uma noção estóica (referido por São Paulo nos Actos dos Apóstolos, 17:28).

  • Até alguns comportamentos dos seus seguidores são semelhantes: o ascetismo, o afastamento da sociedade para melhor meditar eram efectuados por professores estóicos que depois foram imitados pelos seus equivalentes cristãos. Herdaram-se termos: o que praticava auto-controlo era um "ascetic"; aquele que se afastava do mundo era um "monachi" sendo o local de retiro denominado "monasterium".
Como curiosidade final, os Estóicos chamavam por vezes ao Universo a Cidade de Deus. Foi este o título da magna obra de Santo Agostinho (Civitas Dei), um dos maiores teólogos da Igreja. (adaptado de um texto de Maxwell Staniforth)

abril 06, 2004

Correlação

A inércia de um preconceito é proporcional ao número de pessoas que nele acreditam.

abril 05, 2004

Palimpsesto

As cidades crescem nas ruínas do passado, camada sobre camada de esquecimento e História. De igual modo as religiões - diferentes reflexos dessa fé que dificilmente se mostra - crescem sobre o antigo sagrado agora profano. O sangue que correu para mudar de espelho.

abril 01, 2004

Os blogs também

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