"[...] e assim, em dezembro de 25, foi efectuada a primeira teletransmissão com sucesso de um mamífero inferior que viajou de Nova Yorque até Paris em alguns milésimos de segundo. Não se verificaram nenhuns dos nocivos efeitos secundários que teimavam em surgir nas experiências passadas, como profundas disfunções comportamentais ou cancros malignos da mais variada ordem. [...] desde então, o progresso tecnológico foi imenso. Voluntários humanos experimentaram a sensação de serem reposicionados num outro canto do globo em meros instantes. Nenhuma alteração psicossomática tem sido observada. Na nossa década, até os críticos mais cerrados foram obrigados a admitir: o teletransporte era mais do que uma possibilidade teórica, era uma realidade operacional! [...] A revolução dos transportes não se fez esperar. Uma viagem para as colónias marcianas demora hoje pouco mais de vinte minutos para quem a observa e é instantânea para o viajante. [...] O processo de transmissão passa pela análise atómica do sujeito, pela sua codificação e envio do sinal até ao posto receptor. [...] foi essencialmente neste processo que surgiram os maiores preconceitos. O sujeito não é efectivamente transportado. É antes transformado em informação, sendo restituído por um outro conjunto de átomos disponíveis no destino. O original é duplicado, imediatamente destruído e a matéria prima reciclada. As implicações para a sociedade desta nova visão do Homem ainda são imprevisíveis e será, sem dúvida, um dos mais apaixonantes temas de debate dos próximos anos. No entanto, o autor não é capaz de deixar de pensar sobre uma questão que já teima nos nossos espíritos:
O que aconteceria se o original não fosse destruído?"
H. Bulam,
American Sociological Review, vol. 1303, pp. 7-21, Jan-Mar 2136