Segurança
"O que acontece quando queremos ter alguém num contrato de associação mas depois não conseguimos ter ninguém a tempo inteiro?
A P. é uma mulher 30 anos, bancária, vive sozinha, faz o que gosta. Tem uma história familiar que a faz desconfiar do purgatório das boas intenções: andou de um lado para o outro, entre pais e avós ( problemas de migrações, distâncias, chegadas). Passada a fase dos amores em prato do dia, sente agora a falta de um respaldo. Pois, mas P. tem uma pedra no sapato: como confiar?
A pergunta dela é uma boa pergunta como dizia o Jim Hacker do Yes , Minister, porque é uma pergunta que todos fazem, mas atira ao lado. P. somatizou a ansiedade destes anos e, por coincidência, foi a pele, a última fronteira, que pagou. Para sobremesa, desenvolveu um jogo de damas com o evitamento fóbico: só está onde pode estar. A ilusão do controlo também tem direito à vida.
O desejo é a distância tornada sensível, registou um senhor (Blanchot) com que incomodo sempre os meus leitores de blogues. Uma das interpretações : o desejo é o que te torna indefeso, é o que anula a distância. A P. tem olhado para a confiança como condição prévia e por isso todas as distâncias lhe parecem estradas de salteadores." -- Filipe Nunes Vicente