setembro 30, 2010

Aplicação

Será possível encontrar uma axiomática para a ética? Qualquer princípio - utilitarista, deontológico, virtuoso - tem refutação em situações cuidadosamente elaboradas por filósofos. Mas, enquanto não existir um domínio exacto de aplicação para um dado modelo de ética, não serão estas refutações uma injustiça, uma exigência impossível de cumprir? Seria como criticar a geometria euclidiana por não funcionar numa esfera. Mas, para cada possível da ética, qual a forma dessa esfera?

setembro 27, 2010

Estilhaços

Nós vivemos numa realidade física e social única. Talvez por isso só faça sentido falar funcionalmente de um processo cognitivo integrador, de uma consciência. Mas se, por exemplo, o nosso mundo fosse composto por duas realidades simultâneas (*), faria sentido falar da necessidade de duas consciências? Seríamos uma pessoa dupla capaz de gerir e integrar duas continuidades distintas, podendo trocar conhecimentos e experiências entre essas realidades. Que tipo de coerência forçaríamos na ilusão -- assim reforçada -- de um presente estilhaçado?

(*) Num mundo totalmente virtual, numa eventual matrix, este cenário não é impossível. Que diferenças e comparações entre isto e as personas que agora e hoje somos, nesses diferentes contextos sociais que experimentamos sequencialmente?

setembro 23, 2010

Sugestão de Leitura

Um livro escrito para o público por um filósofo de formação que investiga na área da neurologia. Autor de um livro anterior mais formal, Being No One (e de mui complexa leitura), apresenta nesta obra o mesmo argumento: o eu é uma ficção, uma entidade virtual no mundo virtual que construímos para lidar com a realidade externa.
In order to survive, biological organisms must not only successfully predict what is going to happen next in their immediate environment but also be able to predict accurately their behavior and bodily movements along with their consequences. The self-model is a real-time predictor. [...] In our brains, we have a body emulator that uses motor commands to predict the likely proprioceptive and kinesthetic feedback that results from moving our limbs in a certain way. For our actions to be successfully controlled, we cannot wait for the actual feedback from our arms and legs as we move through the world. We need an internal image of our body as a whole that predicts the likely consequences of, say, an attempt to move our left arm in a certain way. In order to be really efficient, we need to know in advance what this would feel like. Furthermore, by “taking it offline,” we can use our body emulator to create motor imagery in our mind—to plan or imagine our body movements without actually executing them. [pg.111]
A terceira parte do livro, mais especulativa, leva-nos a possíveis futuros onde, argumenta o autor, poderemos ter de desenvolver uma ética para a consciência (a partir do momento em que começarmos a criá-las artificialmente e a manipular mais cirurgicamente as nossas próprias).