Educar uma comunidade tem, como deve ser evidente hoje em dia, várias vantagens. Duas que gostaria de apontar:
* É através da educação que se dilui a diferença das classes sociais. O sistema de castas ainda existe nas sociedades modernas. Este mecanismo, mais subtil que as castas explícitas da Índia, cria muros invisíveis (por vezes nem tanto) entre pessoas de nascimentos distintos. Há círculos mais selectivos onde apenas é convidado quem tem pedigree aprovado e pouco mais que isso. A sua existência não se correlaciona com o poder económico. Entre certas comunidades ciganas e a linha de cascais, o mecanismo de exclusividade funciona de igual modo na selecção e filtro dos seus e que passa, variadas vezes, pelo berço. A educação compulsiva promovida pelo Estado é uma forma de contacto entre diferentes círculos e dota os elementos menos privilegiados de ferramentas que lhes permitem furar o seu círculo e misturar-se. Neste sentido, a educação é essencial a uma comunidade cosmopolita e republicana.(*)
* Uma boa educação deve estimular o pensar crítico da comunidade, ser o agente de transformação do rebanho informe em milhões de indivíduos. Uma comunidade assim encontra-se protegida contra vários tipos de propaganda. Quando a pessoa média for capaz de analisar e questionar o que lhe é dito, torna-se a vida mais difícil para as ideologias, para a incompetência ou para serem aceites aventuras financeiras ou militares várias.
Estas e outras vantagens fazem da educação um terraplanar de muros sociais, de preconceitos passados, para que seja possível erigir outros muros, como as defesas contra arbitrariedades futuras. Neste aspecto, educar é reconstruir.
(*) Mas estas castas podem combater a imposição do Estado. Os mais pobres impedindo a educação aos filhos, os mais ricos criando escolas muradas onde apenas entram crianças aceitáveis. Aqui há um dilema de difícil resolução para um espírito liberal.