janeiro 08, 2010

Propostas de Leitura

Gostaria de sugerir três livros que considero excelentes e que dizem respeito à divulgação e ao estímulo do pensar crítico (clicando na imagem vão ter à amazon.uk).

Kindly Inquisitors

O livro de Jonathan Rauch é sobre a livre expressão, a sua importância numa sociedade liberal e os seus inimigos modernos. O autor (um jornalista de investigação) escreve com rara clareza sobre os fundamentos e o motivo porque devemos manter e acarinhar uma sociedade baseada nos princípios da dúvida sistemática; na rejeição de últimas palavras e autoridades indiscutíveis; no recolher de evidência e no discutir público de ideias e crenças privadas para que, algumas, possam tornar-se conhecimento público e partilhado por todos até que outras, melhores, as possam substituir; e que ninguém está acima da crítica ou da caricatura (o livro é de 1991 e termina com uma análise da relevância da tentativa de assassinato de Salman Rushdie). Qualquer sumário deste livro (e especialmente, não este) não lhe faz jus. (180 páginas)

How to Think Straight About Psychology

O título deste livro do professor Keith Stanovich é talvez demasiado específico. O livro mostra o que é o método científico de forma exemplar e muito prática, baseando as afirmações que faz e os princípios que defende com vários estudos e exemplos da medicina e da psicologia (mostrando alguns erros modernos que se fizeram, várias vezes com vítimas, por não terem sido seguidos). Desse ponto de vista, não é só relevante pelo conhecimento da Psicologia enquanto Ciência (porque, como o autor indica, a Psicologia é uma palavra que engloba uma vasta áreas de estudos, nem sempre relacionados, algumas das quais usam ferramentas não científicas) mas para qualquer um que se interesse ou estude outra área que utilize o método científico na produção de conhecimento. Muito bem escrito, documentado e sucinto (cerca de 200 páginas).

Irrationality

O psicólogo Stuart Sutherland (morreu em 1998) escreveu um livro muito esclarecedor, repleto de evidência científica, sobre um dado por vezes esquecido pela teoria económica vigente: o nosso cérebro é fonte de múltiplas decisões irracionais. No entanto, a boa notícia é que tendemos a ser irracionais sempre da mesma forma (irracionais mas não aleatórios) o que permite que estudemos este aspecto da psicologia humana para nos conhecermos melhor e tomar melhores decisões quer individualmente, quer colectivamente. Repleto de humor inglês e apoiado em diversos estudos, o autor apresenta-nos, em cada capítulo, tipos comuns de erros, muitos dos quais originam-se pela fraca capacidade natural de entendermos probabilidades, o que mostra como é importante a educação desta matéria (a par, a meu ver, com a ética) aos membros de uma sociedade que pretenda reduzir a sua cota de irracionalidade. Breve, bem humorado e com uma mensagem muito importante (250 páginas)

[adenda] algumas afirmações retiradas do livro de Sutherland:
  • Os grupos tendem a extremar as suas opiniões partilhadas;
  • A construção de estereótipos é uma abstracção irracional, simplificando o mundo através do crescer da injustiça individual;
  • A expressão pública de uma opção torna-a mais difícil de rejeitar no futuro.
  • É mais fácil seguir a acção dos outros do que ir contra essa acção, independentemente da justiça intrínseca das opções. Deste modo reside o perigo, para as pessoas e para o sentido crítico, de participar em multidões.;
  • Obedecer à autoridade ou conformar com os pares é mais fácil que escolher as alternativas.
    A maioria prefere manter a estrutura dos seus valores mesmo que isso sacrifique a lógica, a coerência e a verdade;
  • Individualmente vê-se o outro como sendo bom ou mau e não como uma mistura positiva e negativa de diferentes características (eg, feio e inteligente, bom mas estúpido, carinhoso mas intolerante);
  • Muitos, em vez de voltar atrás numa decisão, optam por extremá-la (por falta de sentido crítico, por terem investido demasiado). Um pequeno erro inicial pode, assim, transformar-se numa tragédia;
  • Para que alguém faça X, erigir um processo iniciático difícil e desagradável, mesmo que nada tenha a ver com X. Esse investimento inicial faz com que o sujeito sinta mais dificuldade de desistir no futuro.

1 comentário:

José Ricardo Costa disse...

O primeiro já vem a caminho. Obrigado pela sugestão.
JR