julho 18, 2009

Absolutamente

Kant sistematizou uma ponte entre razão e moral. Ao fazê-lo, fundou-as no absoluto sem restrições dos deveres, regras e do imperativo categórico. Mas, tanto nas leis como na argumentação, há um acumular de prioridades que estabelecem excepções umas às outras, e cujo grau de prioridade depende, em última análise, do subtil de cada caso concreto. Não nos escapamos à constante fricção do presente com um bem pensado conjunto de regras. É preciso a sua constante invocação, interacção, aplicação e revisão para conseguirmos chegar ao fim do dia sem a consciência muito pesada.

julho 14, 2009

Prioridades

"The reason that we spend more [on healthcare] than our grandparents did is not waste, fraud and abuse, but advances in medical technology and growth in incomes. Science has consistently found new ways to extend and improve our lives. Wonderful as they are, they do not come cheap. Fortunately, our incomes are growing, and it makes sense to spend this growing prosperity on better health." Greg Mankin

julho 13, 2009

Agência

Entre a norma e a descrição, entre o desejo e o facto, entre o que devia ser e o que é, uma luta incessante entre nós, os outros e a realidade. Sempre fácil a separação binária, dois lados a fazerem-se opostos: a autoridade e a autonomia, a cooperação e o egoísmo, a igualdade e a liberdade, esquerda e direita. Olhamo-nos como pontos numa linha recta, projectando e comprimindo, com excessiva simplicidade, as matizes que em cada um nos destingue. Mas como evitar as fronteiras? Mesmo que multipliquemos essa linha sobre novos planos ortogonais, mesmo que o número de dimensões seja suficiente para satisfazer a nossa sede de complexidade, mesmo considerando o nevoeiro que sempre a esbate, ainda que por nós seja traçada, como evitar a classificação que se impõe, quando o tempo acaba e é necessário escolher um lado, responsabilizar uma acção, decidir?

julho 06, 2009

Três E's

Para muitos dos problemas actuais há três áreas do saber fulcrais para sermos capazes de analisar as informações que nos estão disponíveis e formar uma opinião crítica. Elas são a Estatística, a Economia e a Ética. Vejamos brevemente cada uma. A matemática como é dada presentemente, depois da aritmética, geometria e álgebra, tem muito do seu tempo atribuído ao estudo das funções, dos limites e do contínuo, i.e., das bases da análise e do cálculo que, apesar da sua importância na tecnologia e em muitas ciências, não é relevante no dia-a-dia da maioria das pessoas e, deste modo, fornece argumentos à sua falta de utilidade prática. Porém, as noções de probabilidade, os defeitos e virtudes do aleatório e da informação incompleta, as estimativas e outros conceitos relacionados encontram-se diariamente nos jornais, na recolha e avaliação dos factos, nas decisões legais, médicas ou políticas. E sendo conceitos que os seres humanos têm dificuldade inata (estudada e documentada) em analisar e comparar, mais um motivo haveria para a sua relevância e urgência. Já a importância da Economia, numa sociedade complexa como a nossa, onde decisões ideológicas que sacrificam a razão económica só não são consideradas crime (nos cenários aquém da catástrofe explícita) pela nossa razoável ignorância nesta área. Mesmo que diferentes prioridades económicas sejam resultado de políticas igualmente defensáveis (por exemplo, investir mais na saúde do que na educação, ou vice versa), outras decisões há, populares, eleitoralistas, sectoriais, que são objectivamente prejudiciais à riqueza comum da sociedade, favorecendo poucos e prejudicando muitos. Somente uma população informada do ABC económico seria capaz de distinguir estes tipos de decisões e impedir políticas empobrecedoras que, deste modo, escapam ao escrutínio público. Finalmente, a Ética: aprender os fundamentos deste saber, analisar a sua história passada para melhor ver as limitações do presente, entender o quão relevante é a liberdade do outro e reflectir nos argumentos sobre a justiça, a igualdade política ou a dimensão e as restrições do estado. Tudo isto é essencial para esclarecer e justificar uma base às questões e problemas que se nos deparam como indivíduos, como elementos de maiorias e minorias, como sociedade. É uma coincidência todas começarem por E mas a Estatística, a Economia e a Ética possuem outra coisa em comum e esta não é por acaso: todas são exercícios racionais sobre recursos limitados. Também, nesse aspecto, são pontes importantes entre nós e a realidade que gerimos, dádivas a esse difícil de se ser adulto.

julho 03, 2009

Rebordo

Considerar alternativas é um dos motes da inteligência. Argumentar decisões e crenças também. Na busca infinda da verdade - e nesse ideal de procura uma obtenção de sentido - colaboramos, aplicamos o que de nós é possível, oferecemos ou trocamos possibilidades, julgamos, gerimos probabilidades, factos, quase certezas. O Dr. Spleen vê neste processo (ideal, ainda assim, porque se sabe o quão ignóbeis, porque fáceis, são a estupidez e a ignorância) a virtude de uma rede, da ligação necessária entre iguais para combater o vazio gelado, o turbilhão que se encontra para lá da fronteira humana. Mas nessa rede também a ansiedade da diferença, o necessário reconhecer do abismo, desse caos sem significado, o deteriorar constante que provém de um inimigo sem olhos, sem vontade, uma maré apenas, só que imensa. Spleen não se espelha nessa rede nem sequer no infinito, que admite não ter capacidade de apreender, restando-lhe assim a fronteira. Nesse desenhar fluido, na geometria rendilhada, fractal, dessa linha, tem diariamente de encontrar espaço suficiente para estancar a dissipação, a evaporação do eu que, apesar de tudo, o define.

julho 01, 2009

Mistura

Somos movidos por entre vagas de razões e emoções. Sem as primeiras seríamos um mover de causas e efeitos sem nada em nós, um sobrepor de tudo em todos. Sem as segundas apenas estátuas, redes lógicas infinitas mas incapazes de justificar um motivo, escolher uma palavra, mover um dedo.