No meio de um dos episódios da "Grande Guerra" da BBC é referido o genocídio do Congo Belga pela mão responsável do Rei Leopoldo II da Bélgica. O número de mortos descrito nesse episódio era na ordem dos milhões. Quando ouvi este número (milhões, seja um, seja dez, são milhões) tive dificuldade em acreditar que uma nação neutral durante a maior parte do século XX, e vítima consecutiva das duas guerras europeias, fosse capaz de tal coisa. Este é um Holocausto da dimensão sofrida pelos Judeus, Ciganos e outros às mãos do Nazis. Diversas fontes referem dez milhões de mortos e que, após o assassinato concertado de populações inteiras durante cerca de vinte anos (acompanhadas por violações sistemáticas, de amputações de mãos como prova de morte), reduziu a metade a população do Zaire! Uma das primeiras obras que descreve este monstruoso acto é de 1909 pela mão de Conan Doyle e pode ser lido
aqui. Outra referência encontra-se no livro "Heart of Darkness" de Joseph Conrad cujos horrores descritos se baseiam nestes acontecimentos. Outra coisa que espanta e revolta é o silêncio à volta deste evento. Até à publicação do livro
King Leopold's Ghost de Adam Hochschildem (em1998) e que vendeu centenas de milhares de cópias [
1,
2], não havia sequer um debate na Bélgica quanto mais um assumir de responsabilidade histórica pelo sucedido (há, de 2006, um
documentário norte-americano sobre este período). O sucesso do livro
provocou a ira de vários historiadores belgas que, em 2002, decidiram estudar o assunto (!). No museu belga
Royal Museum for Central Africa (Tervuren Museum) não havia qualquer indicação para o genocídio [
3]. Como não encontrei nada sobre a conclusão dos tais historiadores ofendidos, não faço ideia se já mudaram alguma coisa neste caso patológico de amnésia colectiva (o parlamento britânico
também não). Tanto quanto sei, a história belga continua a ter em grande consideração o seu Rei Leopoldo II.